03 abril, 2007

A retirada - Memórias sobre a 3ª Invasão Francesa (cont. II)



" ... Às dez da noite, o grande quartel-general saiu muito tranquilamente de Fonte Coberta, apesar da vizinhança de vários regimentos inimigos, um dos quais se encontrava situado numa elevação atravessada pelo caminho pelo que nós seguíamos. Para o afastar dele, o marechal serviu-se de um estratagema utilizado frequentemente pelos inimigos contra os franceses, cuja a língua lhes era familiar. O generalíssimo, sabendo que o meu irmão falava muito bem inglês, deu-lhe instruções e o Adolfo, avançando até ao sopé da colina e mantendo-se na sombra gritou para o chefe dos inimigos que o duque de Wellington lhe dava ordem de ir para a direita e chegar a um ponto que ele indicava, mas que se encontrava fora da direcção que nós tomávamos. O coronel inimigo, que não podia distinguir em plena noite e no nevoeiro o uniforme do meu irmão, tomou-o por um ajudante-de-campo inglês. Obedeceu, então, imediatamente, afastou-se e nós passámos à vontade, contentes por ter escapado a este novo perigo. Massena e o seu Estado-Maior juntaram-se antes do nascer do dia às tropas do 6.º corpo.

Durante este longo e difícil trajecto, Massena estava extremamente preocupado com os perigos aos quais a senhora X... estava constantemente exposta. O seu cavalo caiu várias vezes nos bocados de rochedo que nós não conseguíamos ver por causa da escuridão. Esta mulher corajosa levantava-se, ainda que estivesse muito ferida, mas, por fim, estas quedas foram tão frequentes que lhe foi impossível voltar a pegar no seu cavalo ou mesmo caminhar e fomos obrigados a mandar os granadeiros transportá-la. Que teria sido dela se nos tivessem atacado?... O generalíssimo, implorando-nos que não abandonássemos a senhora X..., disse-nos várias vezes: « Que erro cometi ao trazer uma mulher para a guerra!». Em suma, saímos da situação crítica em que Ney nos tinha colocado."

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